Quando os maiores clássicos do futebol são o assunto da roda, é natural que falte uma certa harmonia entre os dois lados da conversa. Quando esse clássico envolve os brasileiros Bahia e Vitória, a dissintonia fica ainda mais frequente, como se a confirmação do sucesso de um dependesse necessariamente da penúria do outro. Esse desarranjo, porém, não impede que o caloroso Ba-Vi arraste multidões para as ruas de Salvador como só se faz na época dos trios elétricos do Carnaval, com a diferença que as cores são limitadas: você só verá branco, azul e vermelho quando a primeira sílaba for vencedora, enquanto o vermelho e o preto darão o tom no caso de festa da outra metade.
Os primeiros 20 anos do clássico não foram lá marcados por muita intensidade. Pois oVitória (Leão da Barra), apesar de constituído em 1899, um dos pioneiros nos gramados do Brasil, tendo começado na modalidade em 1903, só se dedicou ao futebol profissional na década de 1950. Mas não se engane: desde então, os dois times se envolveram com ardor, dividindo taças, deixando equipes como Ypiranga, Galícia e o Botafogo local em segundo plano.
O primeiro jogo entre ambos foi realizado em 1932, e o caçula Bahia, já embalado pelo título estadual do ano anterior, venceu por 3 a 0, em partida com apenas 20 minutos de duração, válida pelo extinto Torneio Início. O Vitória havia acabado de contornar uma crise política e decidido retornar às competições.
Essa vantagem, porém, vem sendo reduzida num ritmo acelerado, com o Vitória, que tem 26 troféus estaduais, na parte de cima da gangorra. O time foi campeão baiano por 14 vezes desde os anos 90. Na década passada, só não ficou com o caneco em 2001 e 2006, ano em que o modesto Colo Colo ousou se intrometer na disputa.
Até hoje, Bahia e Vitória já decidiram o Campeonato Baiano em 27 finais, com 15 títulos para o “Ba” e 12 para o “Vi”.
Na primeira vez em que os dois rivais se enfrentaram em uma decisão no estádio, a do estadual de 1955, quem saiu campeão foi o Vitória, com triunfo por 4 a 3, com muita apreensão, já que havia construído um placar de 4 a 1 antes de ser pressionado nos minutos finais. É o tipo de emoção que ambas as torcidas testemunhariam muitas vezes no futuro.
Um exemplo é o histórico triunfo do Vitória por 6 a 5 em 2007, no quadrangular final do estadual, com duas viradas e cinco empates, sendo que o último foi do Bahia, nos últimos minutos, depois de estar perdendo por 5 a 3. Com os atletas exaustos em campo, o Vitória definiu o placar com o quarto gol do atacante Índio no jogo. Pelo lado do Bahia, uma reação marcante aconteceu em 1976, quando o oponente saiu na frente com um gol de Osni. O mesmo atacante desperdiçou um pênalti no segundo tempo e viu o empate sair no contra-ataque com Douglas. Beijoca, depois, decretou a virada.
A chuva de gols não é de se estranhar. Quem assiste a um clássico entre os dois rivais dificilmente passará incólume à animação de suas torcidas. E para os jogadores, em campo, então? Quase impossível. Independentemente da experiência, da posição e da camisa, quem entra num Ba-Vi está defendendo um clube de muita tradição na revelação de talentos. Alguns deles: o ex-meia Bobô e o lateral-direito Dani Alves, pelo Bahia, ou o ex-atacante Bebeto e o zagueiro David Luiz, pelo Vitória.
Em âmbito nacional, a história dos dois times se convergiu de modo melancólico em 2005, quando ambos foram rebaixados para a Série C. Se o Vitória conseguiu o acesso às Séries B e A nos dois anos seguintes, o Tricolor sofreu com a instabilidade e passou sete anos distante da elite do Brasileirão. Essa espera se encerrará na edição deste ano, depois de uma boa campanha na Segundona em 2010. Um retorno que veio a calhar: justamente no mesmo ano em que o Leão foi rebaixado novamente.
Fonte:http://pt.fifa.com/classicfootball/stories/classicderby/news/newsid=1425371.html
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